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* Por Bruno Abreu

Certa vez, conheci uma empresa que tinha a seguinte prática: quando uma crise acontecia, eles montavam “salas de guerra” onde reuniam pessoas de times diversos para que pudessem atuar na resolução dos problemas. Era impressionante o número de salas e colaboradores que eles convocavam ao mesmo tempo, devido ao grande número de crises que surgiam.

Do ponto de vista econômico, pessoas têm um custo. Certo? E pessoas reunidas para resolver problemas, no caso de grandes corporações, significam milhões de reais que poderiam estar sendo destinados para o desenvolvimento de novos produtos ou projetos estratégicos, bonificação, treinamentos, melhoria das condições de trabalho, distribuição dos lucros entre os acionistas, etc.

Consciente disso, essa companhia resolveu implementar a cultura da qualidade em seus processos e viu a quantidade de salas de guerra diminuir, até quase não precisar mais delas. E foi assim que pôde medir o impacto positivo que o foco em qualidade pode trazer para os negócios.

Mas porque a cultura da qualidade passou a ser prioridade na pauta dos gestores, desde os gerentes de desenvolvimento e de produtos, até os CIOs e CTOs? O estudo Next-gen Application Development & Maintenance (ADM) Services, publicado no início deste ano pela consultoria ISG (Information Services Group), mostrou que a pandemia da Covid-19 estimulou uma mudança no perfil de consumo que, por sua vez, acelerou a digitalização de inúmeros negócios, o que colocou o software, e a qualidade do mesmo, em evidência.

Desde que os primeiros meses de isolamento social passaram e o mercado começou a reagir, não houve uma reunião que eu participasse em que os gestores não me pedissem ajuda para implementar a cultura da qualidade. O mercado finalmente entendeu a importância de se investir nessa frente, e começou a considerá-la como estratégica para o desempenho dos negócios.

Líderes estão cansados: querem fazer mais e sofrer menos

Pode parecer estranho que eu esteja aqui escrevendo um artigo para falar da importância da cultura da qualidade. Isso não deveria estar implícito em qualquer coisa, qualquer processo, qualquer etapa de desenvolvimento de produtos digitais?

A realidade é que somente agora o mindset do mercado está mudando. Até o momento, a mentalidade era de que as empresas precisavam fazer, criar, inovar, lançar novos produtos, custe o que custar. Algo que só era questionado quando o negócio começava a passar por dificuldades, pois enquanto a empresa está crescendo de forma acelerada, muitas vezes o que ela perde com eventuais problemas passa despercebido.

Agora, ao mesmo tempo em que os gestores de produto são cobrados por inovar e manter o ritmo das entregas, eles percebem que é comum que essas entregas sejam feitas com problemas e que isso precisa mudar. Não adianta acelerar, pressionar e demandar por horas extras do time se a qualidade não está sendo priorizada.

Por exemplo, o diretor analisa os índices de reclamação e descobre que eles estão altos. Contudo, ele não recebe informações suficientes para correlacionar os problemas do negócio com a falta de qualidade, e continua cobrando o gestor de produtos de fazer mais, em menos tempo e sem problemas.

E a verdade é que esses gestores estão cansados. Eles querem fazer mais e sofrer menos. E a maneira de fazer isso é fazer bem feito, estimular a equipe e ter as ferramentas, processos e apoio necessários para conseguir com que o time crie essa consciência e a coloque em prática.

Quero apenas reforçar que investir em qualidade não significa eliminar de vez os problemas. Temos que enxergar qualidade de software como um conjunto de práticas de gestão de risco. Quando você não faz, corre um determinado nível de risco, que é alto. Diminuí-lo não significa que aquilo não vai acontecer mais.

Teste de software é só a ponta do iceberg

É comum que as pessoas pensem em teste de software quando o assunto é cultura da qualidade. Quero apenas reforçar que testar é importante, mas não é suficiente!

De nada adianta a etapa de testes se o time codifica sem qualidade e não faz code review; se o projeto não tem product owners ou product managers deixando claro para o time o que precisa ser entregue; se a equipe não tem organização na hora do desenvolvimento; se o gestor não tem indicadores que mostrem se o que foi entregue realmente tem aderência ao que os usuários esperam.

Testar é a porta de entrada para a cultura da qualidade – a ponta do iceberg -, mas no final a gente percebe a quantidade de problemas que existem nos processos; coisas que vão muito além da etapa de desenvolvimento e que, muitas vezes, começam antes mesmo que uma única linha de código tenha sido escrita.

As pessoas finalmente começaram a enxergar que é insustentável evoluir produtos se não houver mecanismos de acompanhamento da qualidade. Uma hora a conta chega, e pode chegar da pior maneira possível, seja com a perda de milhões em dinheiro ou de milhares de usuários.

 *Bruno Abreu é CEO da Sofist

Sobre a Sofist

A Sofist é uma consultoria ultra especializada em qualidade de software. Suas soluções permitem que empresas promovam iniciativas digitais com velocidade e confiança, evitando que pressões por evoluções técnicas prejudiquem a experiência dos usuários. A Sofist está há mais de 12 anos no mercado e atende empresas como Magazine Luiza, iti (Itaú), DMCard, Livelo, Whirlpool, iFood, Via Varejo e Wavy.

Redação
Equipe de Redação

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